Segurança de eventos: um assunto relevante e multifacetado

Existem vários tipos de eventos, cada um com suas características e necessidades. A participação no processo possui várias faces e pretendo mostrar isso a seguir.

Tenho participado da segurança de grandes eventos de diversas formas e sob enfoques diferentes desde a ECO-92.

Eu era então um tenente comandante de uma tropa de operações especiais. Nossa tarefa estava mais direcionada ao planejamento e execução de atividades direcionadas ao contraterrorismo, com ênfase na proteção de VIPs, como o presidente dos Estados Unidos ou primeiro ministro do Reino Unido ou Israel, por exemplo.

Os estudos de situação e análise dos dados de inteligência foram realizados de forma profunda e geraram planejamentos extremamente detalhados. Fomos incumbidos de atividades que a grande maioria das pessoas nem imagina que podem acontecer, como por exemplo, realizar mergulho autônomo para verificação de todos os pilares das pontes que ligam à Ilha do Governador, além da varredura de itinerários e inspeção do próprio Riocentro, dentre outras.

Em 1993 foi a vez da Conferência Ibero-Americana em Salvador. A maior preocupação era o Fidel Castro. Como integrante do Destacamento de Contra-Terror, realizamos varredura de hotéis, reconhecimento de centros de convenções, coordenação e reconhecimento de itinerários. Os helicópteros transportavam as equipes de contra-terror e voavam sobre as aeronaves dos dignitários.

Outros eventos vieram até chegar a visita do Papa João Paulo II, em 1997. Nessa ocasião coordenei a segurança do papamóvel, em que participaram aeronaves do Exército, Força Aérea, Polícia Civil e Polícia Federal nos diversos deslocamentos do pontífice na cidade. O enfoque e participação já tinham outra perspectiva.

Meu objetivo não é listar todas as minhas participações, mas elucidar ao leitor que existem diversas formas de participar.

Em 2011, como comandante do Regimento Sampaio, fui incumbido com a missão de garantir a segurança das áreas adjacentes a todas as arenas desportivas da Vila Militar e da Vila de Atletas dos V Jogos Mundiais Militares.

Designado para integrar a Força de Pacificação na ocupação dos Complexos do Alemão e da Penha, o Regimento Sampaio passou a compor a Base da Força Tarefa Sampaio, que ocupou o Complexo do Alemão em 2011 e o Complexo da Penha em 2012.

Cada um dos complexos possuía cerca de 200 mil pessoas e nos finais de semana tínhamos que cuidar da segurança, estabilidade e condição moral dos inúmeros eventos que ocorriam para garantir, com os meios disponíveis, o lazer daquela área com densa concentração populacional. Bailes funk, festas religiosas, shows de cantores carnaval de rua, visita do príncipe Harry, visita da presidente da República, dentre outros eventos eram as atividades que a Força de Pacificação do Exército tinha que gerenciar ligadas à segurança.

Naquele universo, a prioridade era coibir o tráfico/consumo de drogas, controle de brigas/distúrbios, garantindo a lei e a ordem. Tropa no terreno e Polícia Militar sob nosso controle operacional.

Recentemente fui convidado pelo especialista Igor Pípolo para participar da coordenação e planejamento da segurança do evento Skol Sensation junto à empresa Núcleo. Fiquei bastante impressionado com a metodologia empregada e a capacidade de coordenação e controle que um evento como esse (40 mil pessoas) exige. Valendo-se de metodologia militar (provavelmente assimilada ao longo dos sete anos que permaneceu como tenente do exército), Igor Pípolo organizou um staff que atuava como um Estado-Maior, gerenciando diversos sistemas operacionais como Inteligência e Comunicações, além de controlar a “manobra” dos agentes de segurança especializados, por intermédio dos chefes das empresas de segurança e das brigadas de incêndio.

Um fato relevante foi a participação integrada, unindo o Centro de Comando e Controle de Delegados da Polícia Civil, Federal, Guardas Municipais, integrantes do Corpo de Bombeiros e policiais civis e militares junto ao seu staff.

Dessa simbiose resultou uma captura de 4 integrantes de uma quadrilha de colombianos que veio à cidade de São Paulo só para furtar telefones celulares, resultando na recuperação de 50 unidades, dentre as 200 que foram furtadas no evento.

Ao ser presenteado com o livro Segurança de Eventos – Novas Perspectivas e Desafios para Produção, do próprio Igor, constatei que ele realmente faz o que escreve no livro e considero essa literatura obrigatória a todos os integrantes da iniciativa privada que promovem os inúmeros tipos de eventos, e classifico como altamente recomendável aos militares e atores do poder público que participam direta ou indiretamente da atividade.

Os planejamentos das atividades que realizei nesse assunto poderiam ter sido bastante aperfeiçoados caso eu tivesse tido acesso a essa literatura anteriormente.

Não é à toa que o autor foi convidado a realizar palestras em Nova Jersey sobre o assunto.

Igor de Mesquita Pípolo é fundador da Núcleo Inteligência, da Núcleo Inc. e assessor de Segurança da vice-presidência da Federação das Indústrias de São Paulo, a FIESP. Desenvolve projetos de gerenciamento de risco e segurança empresarial para grandes empresas e instituições, além de ser professor convidado da Universidad Pontificia Comillas de Madrid, na Espanha.

Fica aqui uma sugestão de leitura aos interessados e especialistas no assunto.

Publicação original: http://www.dialogo-americas.com/pt/articles/rmisa/features/regional_news/2013/07/17/feature-ex-4307