Uso da Inteligência no combate ao Coronavírus

Uma das coisas que a maioria das pessoas não entende é que o conceito de segurança está diretamente ligado à sensação. Você pode estar num restaurante caro, sem nenhum estresse e achar que está tudo bem, mas na mesa do lado pode haver um terrorista suicida vestindo um colete de explosivos prestes a acionar o dispositivo que levará tudo pelos ares, ou seja você está correndo um tremendo risco, mas não tem nenhuma noção. No caso do Coronavírus, uma pessoa infectada pode entrar no mesmo elevador que você, que não tem ideia do risco de contágio que poderá estar exposto. Aí entra a importância de ter uma rede de informações que permita uma antecipação das ameaças. Na verdade, a Inteligência é a primeira linha de defesa de uma sociedade e ela sempre precisa direcionar as operações.

Um dos grandes desafios da atualidade é o trabalho interagências, que sempre exige o aumento da interoperabilidade entre os atores. O risco do Coronavírus é de interesse da segurança nacional devido ao risco de uma epidemia de grandes proporções pela facilidade de contágio. Assim sendo, verifica-se a necessidade de integração de dados e de sistemas em amplo espectro para ampliar a capacidade de resposta. Um dos exemplos poderia ser o caso dos órgãos de inteligência acostumados a lidar apenas com a temática referente à segurança e defesa, poderiam passar a contribuir no esforço de monitoramento e compartilhamento de dados de interesse dessa crise.

Outro detalhe importante nesse tipo de crise é a criatividade na utilização de outras metodologias para rastrear uma epidemia. Em março de 1918, o vírus Influenza, que foi inicialmente diagnosticado em Kansas, Estados Unidos; até o final do ano seguinte, infectou meio bilhão de pessoas e vitimou entre 50 e 100 milhões na maior pandemia já registrada e ficou conhecida como gripe espanhola.

Em 2009, quando surgiu o vírus H1N1, que combinava os vírus que causavam a gripe aviária e a suína, os órgãos de saúde pública do mundo dispararam o alerta de que outra horripilante pandemia estaria a caminho. No caso americano, existem espalhados pelo país Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC – Centers for Disease Control). Naquela oportunidade, solicitaram aos médicos que informassem todos os casos de gripe. Como nem sempre as pessoas vão imediatamente ao médico ou não conseguem marcar uma consulta com rapidez, o envio das informações estava sempre defasado, comprometendo o princípio da oportunidade. A coleta de dados para os diagnósticos era fundamentada nos tradicionais exames de saliva e avaliação médica. Numa epidemia que se alastra nessa velocidade, o retardo de dez dias pode ser catastrófico.

Naquela oportunidade, um pouco antes de o H1N1 dominar as manchetes internacionais, a revista científica Nature havia publicado um trabalho dos engenheiros do Google sobre o uso da plataforma na monitoração da gripe de inverno nos Estados Unidos. Como naquela época o Google já recebia mais de três bilhões de pesquisa por dia, basearam se na comparação dos termos mais pesquisados na internet e a lista de dados dos CDC sobre a disseminação da doença nos cinco anos anteriores. Com isso, as pessoas contaminadas pelo vírus poderiam ser identificadas a partir de suas pesquisas na internet. Para confirmar a teoria, usaram 450 milhões de modelos matemáticos diferentes comparando os casos reais confirmados com as previsões do programa. Nesse processo, descobriu-se que a combinação de 45 termos de busca em um dos modelos matemáticos apresentavam um grande alinhamento entre a previsão e os números oficiais. O grande diferencial dessa pesquisa é que o acompanhamento da epidemia poderia ser realizado praticamente em tempo real.

Quando a crise do vírus H1N1 chegou logo depois da publicação desse experimento, o sistema de saúde americano já dispunha de uma ferramenta que permitia o acompanhamento de forma mais ágil do que o sistema baseado nas informações médicas. A utilização do “Big Data” possibilita que as autoridades de saúde pública obtenham informações de forma inovadora para gerar ideias úteis, bens e serviços de valor relevante.

Após esse evento do vírus H1N1, as ferramentas de pesquisa já se desenvolveram bastante, as redes sociais deram um salto exponencial e o volume de atividades na internet cresceu muito. Dessa forma, considero importante nesse tipo de evento, que os governos dos países saibam usar as novas tecnologias para acompanhar e combater o problema além de orientar coerentemente a população.