Não vamos aqui falar sobre a definição de pandemia nem apresentar outros fenômenos que aconteceram ao longo da nossa história; mas é importante enfatizar que, nas últimas décadas, nenhuma doença contagiante provocou tanta alteração comportamental na humanidade em escala planetária quanto a pandemia do Covid-19. As mudanças envolvem uma lista inumerável.
O isolamento social é uma das medidas de prevenção mais usadas durante essa pandemia para reduzir as possibilidades de transmissão do novo vírus e tem trazido várias repercussões psicológicas e comportamentais na sociedade. Um dos primeiros segmentos da economia a se ajustar a essa realidade, é o da criminalidade, até mesmo porque não precisam respeitar nenhuma formalidade. Eles são extremamente ágeis.
Assim sendo, se por um lado reduziram invasões de residências porque as pessoas estão dentro das casas, os assaltos à mão armada e homicídios também despencaram porque tem menos gente nas ruas e os assassinatos na maioria acontecem das 22h às 2h da madrugada. Outro setor que foi bastante atingido foi o de roubo de cargas, devido à redução da circulação de mercadorias.
Para “compensar os prejuízos”, a criminalidade urbana migrou para outras atividades; como resultado, o número de casos de fraudes de cartão de crédito, hackeamentos, fraudes digitais, clonagem de perfis em redes sociais e crimes de pedofilia na internet explodiram. Um outro crime que surgiu foi o de “saidinha de mercado”, pessoas estão sendo assaltadas na saída de supermercados, em que suas sacolas de compras cheias de gêneros de primeira necessidade estão sendo levadas.
Também vale registrar que os crimes de violência doméstica passaram a apresentar um número maior de registros porque algumas agressões que antes estavam apenas no nível de ofensas verbais tiveram uma escalada de intensidade e evoluíram para agressões físicas devido ao convívio mais intenso na reclusão forçada.
Como o Brasil possui uma dimensão continental, a diversidade regional também se reflete nas atividades criminais. Em alguns lugares parece que estão testando até mesmo as Forças Armadas; no início de maio narcotraficantes confrontaram um bloqueio fluvial do Exército em plena selva, a 800 Km de Manaus, matando um militar e ferindo outros. No dia dez de maio, uma embarcação da Polícia Federal em que também estavam militares do Exército, foi abalroada às 23 horas por uma lancha clandestina que conduzia produtos ilícitos. No choque, dois militares se feriram e um desapareceu nas águas escuras do Rio Guaíra.
Apesar dessas baixas, a verdade é que infelizmente a imprensa não tem divulgado como deveria que a sinergia entre as Forças Armadas e as Forças Policiais nunca foi tão intensa e a criminalidade está tendo muitos prejuízos. Nesse mês de maio de 2020, o Ministério da Justiça bateu recorde de apreensões nas fronteiras com quase 180 toneladas de drogas apreendidas. Além disso, também foram apreendidas 55 toneladas de cigarros, 22 aeronaves, centenas de carros, embarcações, caminhões e veículos utilitários. O Ministério da Justiça estima que com as prisões de mais de duas mil pessoas e essas apreensões, o prejuízo estimado aos criminosos tenha sido superior a 800 milhões.