A capa da Folha de S. Paulo deste de sábado, 28 Jun revelou algo que já vínhamos percebendo há algum tempo nos bastidores do setor de segurança e inteligência corporativa: o crime organizado brasileiro evoluiu e se sofisticou ao ponto de fazer parte de estrutura da própria economia.
Segundo a reportagem, investidores, bancos e fundos passaram a considerar o chamado “Risco PCC” em suas decisões de negócio. Isso significa que, além de riscos cambiais, fiscais, reputacionais e regulatórios, agora é necessário estimar também a presença de facções criminosas nos setores formais da economia.
Sim, o PCC está operando empresas, participando de licitações públicas, comprando linhas de ônibus, clínicas, transportadoras, fintechs e até negócios ligados à coleta de lixo e ao setor imobiliário. De forma estrutural, silenciosa e altamente organizada.
Como especialista em segurança corporativa, vejo esse cenário com extrema preocupação. O impacto disso nas empresas sérias é profundo:
- Aumenta drasticamente o custo de compliance.
- Eleva o risco de imagem e reputação.
- Cria uma concorrência desleal, que joga contra empresários que operam dentro da legalidade.
- E contamina o ambiente de negócios como um todo, dificultando a atração de capital e sufocando a iniciativa privada.
Esse é um risco novo (já conhecido), difícil de mapear e ainda mais difícil de isolar, pois carrega uma aparência de legalidade. Estamos falando de um crime com CNPJ, contrato social e cartão corporativo.
Essa nova fase do PCC me lembra muito o que vi e vivi em outro contexto.
Durante minha especialização em segurança e pela Universidade de Comillas em Madri, estudei profundamente a atuação do ETA, grupo separatista que aterrorizou a Espanha por décadas. E não apenas estudei: eu estava em Barcelona no dia em que o ETA anunciou o fim da luta armada. Vi de perto os efeitos políticos, sociais e econômicos de uma organização paralela que se infiltra, manipula e resiste por décadas.
A diferença é que, no Brasil, a ideologia é o lucro. E o método é mais difícil de identificar. Não explode carros. Explode balancetes.
A direita precisa incorporar esse debate com firmeza. Não se trata de militarização ou discurso moralista. Trata-se de defender a liberdade econômica, a transparência dos contratos e o Estado de Direito.
Não há empreendedorismo possível em um país onde o crime organiza melhor do que o Estado.