Os Riscos e as Crianças

Recebi vários contatos de pessoas conhecidas nestas duas últimas semanas, pedindo para que eu comentasse sobre a tragédia que ocorreu em Orlando com uma criança que foi morta por um crocodilo. Via de regra, evito emitir opinião sobre um caso como esse antes de ouvir o que as autoridades apuraram oficialmente em suas investigações.

Numa breve análise dos fatos sob a ótica da gestão de riscos e com as informações coletadas nas mídias, identificamos uma parcela de responsabilidade para ambas as partes, tanto para o hotel quanto para os pais.

O hotel deve ter seus planos de gestão de riscos e, certamente, o risco de um ataque de um animal como esse deveria estar previsto, pois o empreendimento encontra-se “dentro” do habitat dos crocodilos. Quando o impacto de um risco é muito alto (ex: perda de vida humana), independente de sua probabilidade ser baixa, é preciso dar uma atenção especial e dedicar todo esforço para tratá-lo de forma adequada e preventivamente.

A pergunta recai em primeiro plano sob a responsabilidade do hotel: o que o hotel poderia ter feito para evitar tal ocorrência? Poderia ter instalado redes de proteção dentro dos lagos, patrulhamento ostensivo com botes ou nas margens dos lagos, sistemas de câmara com alta tecnologia capaz de identificar pessoas em área de risco (de dia e à noite), sistemas de radar subaquático, placas de advertência ao hóspedes e outras medidas complementares. Acredito que algumas dessas ações façam parte do plano de segurança dos hotéis da Disney, considerado centro de excelência em hospitalidade.

Por outro lado, os pais jamais deveriam se distanciar de seus filhos menores, basta um segundo e eles podem se envolver em sérios problemas. A parcela de responsabilidade dos pais, neste caso, é fato, independente da irreparável dor da perda. Como pais, somos responsáveis pelos nossos riscos e também aqueles aos quais nossos filhos estarão expostos. É preciso que pensemos por eles e nos antecipemos as ações para evitar que se machuquem.

As estatísticas nos EUA apontam que mais de 3,4 milhões de crianças entre 0 e 14 anos sofrem uma lesão não intencional por responsabilidade das famílias a cada ano. Entre as principais causas de acidentes na infância em casa está o afogamento, considerado a principal causa de morte em crianças com idades entre 1 e 4 anos. A água é muito atrativa para as crianças, todo cuidado é pouco!

O tempo todo em casa ou fora dela estamos orientando as crianças a não ficarem perto do fogão ou do ferro quente de passar roupa, não pegar em objetos cortantes, a não por o dedo na tomada, a não subir em lugares altos, a não atravessar a rua sem olhar para ver se vem carro, a descer escadas segurando no corrimão e outros tantos pontos de atenção. Por mais que achemos nossos “pequenos” espertos e ágeis, eles não possuem capacidade de promoverem a própria defesa e, muito menos, identificar situações de risco.

Caberá às autoridades apontar os responsáveis e definir providências que deverão ser tomadas ou reforçadas para evitar um caso semelhante no futuro.

Do nosso lado, recomendo uma simples análise de risco em sua casa ou onde você vá com seus filhos. Garanto que não será tempo perdido. Pode ser a sutil diferença entre estar seguro ou não.

Matéria publicada em minha coluna no jornal Gazeta Brazilian News: http://gazetanews.com/author/igor-pipolo/.