“O preço da Liberdade é a eterna vigilância” – (Thomas Jefferson)
Com essa frase, com a qual concordo e estou convicto, tomo a respeitosa liberdade de expor alguns tópicos visando contribuir com as pessoas que moram em suas casas, as quais ficam nas ruas, que formam bairros e as cidades.
A experiência no convívio com as pessoas que frequentam as reuniões do CONSEG – Conselho Comunitário de Segurança, além das atribuições que o cargo de presidente requer, tem sido um grande aprendizado e motivo de alegria. Também tem me mostrado que os problemas da população, independente do bairro ou zona da cidade de São Paulo onde moram, são os mesmos. Comportamentos indevidos, desprezo ou negligência com a limpeza e manutenção de espaços, manifestações denominadas de festas organizadas por poucos, que invadem a privacidade e o direito ao descanso de muitos e os crimes do dia-a-dia, tais como roubos, assaltos a residências, furto/roubo de veículos e pertences, dentre outros.
Apesar da visível vontade dos representantes das forças policiais presentes a essas reuniões, em ajudar e atender os reclamos da sociedade que se faz presente é igualmente notório a limitação que esses profissionais têm diante do atual ordenamento legal o que, consequente e tristemente, recai sobre o tecido social, construindo uma sensação de impunidade e de que “não adianta fazer nada”, ou seja, estamos perdendo a capacidade de nos indignar.
Mas também tenho percebido que, aos poucos, as pessoas começam a reconhecer que a grande e, arrisco-me a dizer, a imensurável força de uma população, está exatamente em sua união, em sua organização. Projetos como Vizinhança Solidária, ou atitudes semelhantes, até mesmo que não formalizadas ou com uma denominação específica, ou seja, iniciativas de cunho popular, do bairro e para o bairro, tem alcançado cada vez mais as micro sociedades, possibilitando a estas produzirem dados e informações que auxiliam as autoridades policiais locais na investigação de ilícitos e também contribuem para estabelecer um ambiente um pouco mais normal, uma vez que, a realidade da segurança pública de hoje é anormal.
Cada vez mais o consenso de que a responsabilidade é e deve ser compartilhada, como, aliás, já é preconizado no tão citado artigo 144 da Constituição Federal – “A segurança pública, dever do Estado e responsabilidade de todos…”, tem sido abraçada pelas pessoas que se veem vítimas de situações de crime, as quais despertam para essa crucial necessidade. Por outro lado, ainda não é cultura de nossa sociedade a prática da prevenção.
Assim, tendo com princípio a defesa e manutenção da integridade de pessoas e seus bens e acreditando na necessidade de uma organização mínima e, por mais simples que seja, mas existente, tenho difundido a prática do estabelecimento de um contexto, de uma estratégia. Para tal, há que se destacar a inerente consequência de uma medida dessas, oriunda de um planejamento e acompanhamento (medição). O renomado professor Vicente Falconi em seu livro O Verdadeiro Poder (2009 – Editora Nova Lima), faz uma lúdica descrição do método conhecido como “PDCA” e, em um de seus comentários diz: “Este método viabiliza o gerenciamento científico de uma organização. Veremos que o PDCA permite criar, aprender, copiar e difundir conhecimento e que o aprendizado é a alma de sua utilização”. É importante que as pessoas, organizadas em associações de bairro, condomínios, núcleos de ação local, enfim qualquer forma de agrupamento definam sua estratégia, pois, somente dessa forma saberemos onde chegar e se estamos no caminho correto desse objetivo. Penso que talvez, uma forma para auxiliar a exercer e aplicar essa organização pode ser a adoção desse método – PDCA. Creio enfaticamente que, a adoção de uma forma organizada de se ver, discutir e tratar os problemas locais são fatores críticos de sucesso para a retomada de seu respectivo espaço (vizinhança).
Algumas ideias têm sido aplicadas com resultados positivos, as quais foram oriundas de um estudo e da criação de um conceito, no qual o ambiente protegido passa a ser interativo com as pessoas, ou seja, “a rua fala”. Junto com as câmeras de segurança (existentes ou a serem instaladas), são vinculados de forma sistêmica, dispositivos que emitem som e luz diante de uma não conformidade previamente estabelecida. Uma central de gerenciamento de imagens remota (onde essa inteligência é definida e aplicada e também, através da qual se armazena as imagens em nuvem), ao receber essas informações, adota um protocolo de verificação do fato, igualmente planejado no sistema. Alguns locais que já possuem equipes de profissionais em campo, passam a dispor de mais uma camada de segurança, pois os profissionais locais podem ser acionados pela central e encaminhados para o local especifico.
Os “olhos eletrônicos” organizados de forma sistêmica – software, ampliam a capacidade de vigilância dos espaços, permitem medição e auditoria, mudam a atual matriz que se baseia no homem, isto é, o sistema passa a ser o protagonista. Além de ter se demonstrado viável, pois utiliza recursos já existentes. Trata-se de um serviço e não da compra de mais e mais equipamentos. Ou seja, entendeu-se onde estava, onde se quer chegar e como chegar – estratégia. Esse modelo permite a geração de estatísticas, alertas de cunho educacional, identifica falhas nos equipamentos vinculados e, se necessário for, disponibiliza informações (data, hora e imagem), para as polícias realizarem seu trabalho a favor dessa comunidade.
De forma particular, penso que não devemos apenas e tão somente esperar que os governos e governantes tomem providências relativas à segurança pública, o que entendo é que, como cidadãos, temos que exigir e, organizada e civilmente, pressionar as autoridades competentes, em suas respectivas esferas de atuação. Uma das formas que vejo para exercer essa pressão é a organização da sociedade e a sugestão de alternativas onde o privado e o público se inter-relacionam em prol de um bem comum.