Introdução – reflexão
À partir de leituras, consultas e pesquisas, observei a oportunidade deste tema em particular para destacar também uma perspectiva de atuação na base das ocorrências, através de uma estratégia fundamental, que assegure resultados eficientes e eficazes no controle de riscos deste e de outros cenários.
Apesar do destaque à presença, ação e resposta contundente dos setores de Segurança Pública e Privada, temos também conteúdos vastos e diversificados sobre as consequências que vivenciamos e em que atuamos, dos esforços superados ou insuficientes de diversas outras iniciativas e competências em favor das pessoas, tais como: a assistência social, a educação, a saúde e a justiça. Portanto, é à partir desta condição que compartilho uma perspectiva tática combinada com a perspectiva humana, como uma “estratégia acróstica”.
Estendo esta oportunidade de reflexão aos leitores por tratar-se também de uma iniciativa ao alcance de todos sem exceção, para a sua porção de contribuição sem grandes esforços, mas, de forma agradável e de extrema satisfação pessoal pela garantia dos resultados.
Risco Predominante – crianças nas escolas
Temos visto jovens, adolescentes e crianças, que covardemente atacam alvos selecionados de forma aleatória e massiva, apesar de eventuais pessoalidades ou perfis seletivos em alguns casos, mas, sempre prevalecendo de pessoas e ambientes que não lhes ofereçam qualquer resistência. Em geral, temos observado crianças e pessoas indefesas no ambiente escolar, porém, alerto que o “ataque ativo” é um risco à quaisquer ambientes de concentração de pessoas que tenham a mesma oportunidade massiva de resultado e, embora sejam raros os casos, não se pode descartar diferentes motivações pessoais ou sociais, argumentos políticos, comerciais, profissionais, religiosos ou classistas, agravados por descontroles extremos do comportamento, em qualquer outro ambiente, privado ou público.
Objetivo – salvar vidas, com visão estratégica
À fim de agregar algum valor na interpretação dos conteúdos já existentes e de aspecto mais tático, quero dar ênfase ao aspecto estratégico de todas as orientações que tenho visto, explorando algumas conclusões observadas sobre a origem e motivação destas práticas criminosas para, assim como tem sido despertadas as possibilidade preventivas e reativas ao alcance de todos os civis no decurso dos incidentes, que possamos também perceber possibilidades de atuação na sua raiz, antecipando ao máximo os sinais através de comportamentos manifestados pelos agressores desde a sua motivação até a fase preparatória destas desastrosas ações, permitindo a devida interceptação e tratamento, afinal, antecipar aos atacantes é a forma de efetivamente salvar vidas e com o menor custo, enquanto que a intervenção reativa tende apenas a interromper a extensão dos danos já evidenciados contra a integridade física e às vidas.
Ao mencionar “salvar vidas”, refiro-me às vidas dos agressores inclusive, principalmente em se tratando das crianças, jovens e adolescentes, onde destaco o fator estratégico deste conteúdo.
Do Método Tático Recomendado – padrão oficial norte americano
O método de resposta civil que está se tornando popular – “Fugir | Esconder | Lutar”, originalmente “Avoid (Evitar) | Deny (Negar) | Defend (Defender)”, é um protocolo recomendado pelo “Advanced Law Enforcement Rapid Response Training (ALERRT)” que consolida lições aprendidas destes incidentes no âmbito doméstico e estrangeiro e, em 2013 foi nomeado pelo FBI como padrão nacional de treinamento nos Estados Unidos da América do Norte (EUA), para os incidentes de “atirador ativo”, aperfeiçoado para “ataques ativos”, portanto, com referência tática confiável e aderente aos incidentes no Brasil, de mesma natureza, assim como eventos semelhantes.
Das Circunstâncias Observadas
Ainda, dentre os estudos, observou-se que a maior parte dos incidentes se encerra antes da chegada da Polícia, e sempre dentro de um momento denominado “momento do caos”, ou seja, situação em que o cenário não está claro para as pessoas dentro do raio de ação dos agressores, mesmo para aquelas envolvidas com a eventual intervenção primária, de confusão e desordem instalada pela baixa ou nenhuma disponibilidade de informações e recursos. Desta forma, com a capacidade mental e emocional comprometidas, a capacidade física e funcional dos indivíduos envolvidos torna-se mais limitada, escalando o estado de pânico que retroalimenta o cenário confuso e desordenado.
No Brasil, predominam os ataques contra escolas como já mencionado, sendo que a resolução dos eventos foi por rendição ou suicídio dos agressores, nenhum neutralizado pela polícia, embora detidos no local por civis ou por policiais na sua maioria. Mais de 30% das vítimas foi à óbito enquanto as demais sofreram ferimentos.
Dos Agressores
Preparados com relativo planejamento, embora haja também àqueles sujeitos a picos impulsivos, com ações de baixa preparação, sendo que os preparados anunciam ou deixam sinais com relativa riqueza de detalhes de que atuarão, enquanto os improvisados deixam rastros mais limitados pela sua própria limitação de objetivos, porém, em ambos são observadas manifestações pregressas nos ambientes e relações mais íntimas, pessoais e virtuais.
Contágio e Imitação, é um efeito nocivo que desencadeia práticas criminosas em série, pela exposição de alguns indivíduos suscetíveis à influência de um determinado comportamento, exposição esta normalmente potencializada pela publicidade de eventos e de agressores relacionados aos comportamentos a que são propensos, desde simples comentários até as intensas veiculações midiáticas, de nomes, perfis, imagens, informações e históricos sobre os crimes.
17 escolas foram atacadas por 19 agressores, sendo predominante entre eles a faixa etária adolescente, e de todos os agressores, 17 deles tinham relação direta com o ambiente interno das escolas, portanto, eram conhecidos por funcionários e alunos.
12 tinham idade entre 13 e 17 anos; 6 idade entre 18 e 25 anos; 1 tinha idade de 50 anos.
8 Ex- Alunos; 8 Alunos; 1 Funcionário; 2 sem relação divulgada.
Da Estratégia Acróstica
É indispensável o trabalho conjunto entre as instituições atacadas e a polícia, no desenvolvimento de planos de crise, com metodologia padronizada e atuação combinada, sendo considerado relevante para o tratamento de situações em que vidas humanas estão em risco, constituindo então um plano que requer análise de risco, definição de ações preventivas e de resposta com integração dos recursos, monitoramento e atualização dos cenários, ou seja, é dinâmico tanto quanto o comportamento das pessoas em geral sobre o ambiente determinado.
No modelo geralmente voltado ao local dos eventos, o monitoramento e a avaliação de riscos, focam na variável “ameaça” para detecção da iminente agressão, porém, em um espaço limitado que trará sinais em um tempo também restrito, enquanto que a extensão desta medida destaca-se na estratégia quando extrapolando o seu tempo e espaço, pois, define um responsável por avaliar ameaças de violência relatadas por alunos, professores, funcionários da escola ou agentes de segurança pública, através de coleta de dados de campo e busca ativa relacionada, sendo que este responsável e respectiva avaliação pode ser qualquer pessoa em qualquer âmbito de relacionamento e convívio do potencial agressor (ameaça), enquanto ainda no processo de desenvolvimento do seu desequilíbrio emocional e mental.
Explorando uma parte importante à ser considerada no plano de ações, tendo sido observados que os agressores deixam sinais pregressos de comportamento através de manifestações em família, entre colegas e na WEB, fica claro que a capacidade de monitoramento e observação deve extrapolar os ambientes convencionais sob ameaça e estender-se em abrangência e profundidade, para que a detecção seja precisa e produtiva em favor da vida do próprio agressor como prioridade que, com a devida antecipação, é reduzido a condição de
“potencial agressor”, de menor potencial ofensivo conforme o momento de sua detecção, porém, torna-se uma pessoa mais importante que requer atenção e cuidados especiais, completando a dinâmica da estratégia mencionada. Isso só é possível com o reconhecimento e contribuição espontânea e ativa de “todas as pessoas em todos os locais” e respectivos relacionamentos interpessoais, à começar da própria família, amigos e correspondentes virtuais, motivo único deste artigo.
Assim como no âmbito familiar, além das relações sociais e profissionais, também na escola precisamos ficar atentos à relação entre o que se ensina e o que as pessoas aprendem, pois, o ser humano capta e reage muito mais a linguagem “não verbal” e “subliminar”, ou seja, as ações, atitudes e comportamentos, do que as palavras e seus sentidos objetivos, tanto para o aprendizado racional quanto para a resposta emocional, portanto, o que se instrui assim como a forma de tratamento entre as pessoas deve receber mais atenção e cuidados, não se deve ignorar quando um conteúdo ou tratamento causa um efeito negativo a alguém em particular, pois, por trás de uma reação excessiva, seja de retração ou de extravaso, pode estar um processo de perda de controle emocional e mental ainda em desenvolvimento. Muitas vezes o que se tem ensinado faz com que as pessoas “desaprendam” ou, em se tratando de crianças, nem tenham a chance de conhecer parâmetros verdadeiros e completos para o devido aprendizado e formação de opiniões legítimas e não manipuladas, essenciais para a resistência emocional e mental. Ter a função objetiva e profissional de ensinar remete a um cuidado especial sobre o que as pessoas aprendem, sendo que a contribuição na detecção, observação e tratamento preventivo de comportamentos e eventos inaceitáveis, está à proporção do mérito sobre os eventos desejáveis e comportamentos louváveis da grande maioria das pessoas sob sua responsabilidade.
Abaixo eu compartilho uma parte do modelo utilizado em planos de ação de segurança, sobre pessoas, instalações e operações em que tratamos o controle de riscos, construindo e alimentando um repositório de informações para garantir os padrões aceitáveis de comportamento do ambiente, em contribuição ao reconhecimento dos eventuais cenários que requerem tratamento, descrevo também como torná-lo aplicável, individual e institucionalmente, em qualquer outro âmbito de convívio interpessoal, que esteja fora do alcance das entidades diretamente relacionadas às ações e medidas formais, por exemplo: convívio familiar, profissional, educacional e social em geral.
Na descrição abaixo também fica claro o termo escolhido para a estratégia que menciono, mas, ressalto que, apesar da garantia de resultados, a estratégia completa somente pode ser aplicada à partir do legítimo interesse de todos os envolvidos em cuidar das vidas, de todas as vidas sem exceção, desde a origem das ocorrências à serem tratadas até a restauração da normalidade, caso eventos ocorram. Havendo dúvida sobre a essência desta estratégia ou sendo considerada complexa para a aplicação por iniciativa pessoal, basta recorrer ao “acrônimo”, ou seja, através das iniciais de cada etapa, e toda a dificuldade se resolverá.
Para que seja estendida à contribuição ativa de cada indivíduo, em qualquer segmento da sociedade, anterior e externo ao cenário dos eventos ativos, em cada etapa você encontra a descrição da replicação técnica no âmbito pessoal e individual, referindo-me, por exemplo, aos pais e familiares, educadores e alunos, líderes e equipes, influenciadores e seguidores, como segue:
Alerta – definição dos níveis de atenção relativo às condições emocionais e comportamentais das pessoas no ambiente, através da identificação de sinais característicos que orientarão a detecção precisa e antecipada, para o devido tratamento.
No âmbito pessoal e individual, deve-se apenas reconhecer e definir diferentes situações que produzam sinais que chamem a atenção e orientem reações correspondentes, para orientar o monitoramento constante ou, pelo menos, melhorar a sensibilidade para os sinais relevantes, ajustando o seu estado de “consciência situacional”.
Monitoramento – uma vez organizado o critério, aplica-se a capacidade sensorial e intelectual na busca e na seleção dos cenários de cuidados, como exceções no ambiente relacionado, através de recursos humanos, técnicos e organizacionais que compõem um sistema contínuo, que detecte situações conforme os critérios estabelecidos para exceções.
No âmbito pessoal e individual, deve-se praticar os critérios reconhecidos na definição do estado de alerta individual, usando a “consciência situacional” para as devidas iniciativas de tratamento, quando identificadas as exceções.
Observação – dedicamos foco para explorar informações que produzam conhecimento suficiente e, ao detectar situações de cuidados de comportamento, passamos a direcionar atenção personalizada para identificação e classificação do perfil de exceção, para ações imediatas, de curto, médio e longo prazo, ajustando o plano tático que orienta as prioridades de abordagens e eventual intervenção.
Pessoalmente, deve-se dar atenção individual, com interação conforme o grau de relacionamento e liberdade, buscando confirmar ou não uma necessidade de atenção e cuidado.
Reação – resposta com a devida abordagem e os recursos disponíveis para cada situação e, no decurso do aprendizado de cada cenário, desenvolvemos novos recursos e integrações, assim como compartilhamos o tratamento com outras competências se necessário, para a dedicação de atenção e cuidados, quando possível, considerando inclusive a intervenção positiva de entendimento, suporte, acompanhamento da condição mental e emocional no cenário sob tratamento, com seguimento profissional, conforme as conclusões no decurso da interação com a situação.
No âmbito pessoal e individual, ao primeiro sinal de variação mental ou emocional, deve-se dedicar atenção e cuidados de forma contínua, buscando entendimento e equilíbrio na situação conforme o grau de relacionamento e liberdade, explorando o limite da relação e da competência técnica para o contexto, agregando recursos especializados para completar ou aperfeiçoar o tratamento e resgate da pessoa sob cuidados.
Resumindo a estratégia:
A – Alerta: critérios de detecção de exceções.
M – Monitoramento: aplicação contínua dos critérios.
O – Observação: foco sobre eventual cenário e condição de cuidados.
R – Reação: tratamento do cenário.
O amor é a maior fonte de poder de transformação, reverte toda situação difícil não importando o seu tamanho ou complexidade, porém, a maior manifestação dos seus resultados só acontece entre duas ou mais pessoas, portanto, exige a união de esforços à partir de cada um, em cada oportunidade objetiva ou subjetiva de atuação, sobre pessoas ou situações que conheçamos ou não, tendo em vista que nunca sabemos realmente o que se passa com o nosso próximo, quando se apresenta em desequilíbrio, emocional ou mental.
Todos precisamos de cuidados e só praticamos o amor quando entendemos que todos promovemos cuidados uns com os outros, atentos e prevenindo “maus cuidados” não somente com mal tratos, mas, também quando ignoramos “pedidos velados de socorro”, assim como praticando “bons cuidados” reconhecendo a nossa interdependência na manifestação legítima do amor, que cura e transforma.
Vemos crianças, jovens e adultos com alta sensibilidade à ofensas e rejeição, sem qualquer resistência mesmo ao que se considera inerente às condições gerais de convívio, manifestações onde “limites” tornaram-se sinônimo de violação a pseudoliberdade, em que o senso de liberdade tem se confundido com libertinagem, também no sentido de indiscriminada insubmissão e indisciplina, distanciando a percepção do cuidado e da atenção praticados através da disciplina e do controle quando aplicados com amor, este último também tornando-se um sentimento estranho e restrito ao sentido material e físico, desgastado pelas prioridades fabricadas em favor do que é aparente, popular e que proporcione satisfação, porém, prazeres momentâneos e de curto efeito, que criam intensa dependência, promovendo a inversão de valores e destruindo vidas, ainda que “vivas”. Nossas crianças e adolescentes clamam pela nossa atenção e cuidados em uma linguagem já conhecida pelos pais em geral, que por sua vez também precisam de socorro, não somente ao serem surpreendidos pelo envolvimento dos seus filhos nos eventos ativos, mas, também na aplicação estratégica do A.M.O.R., no sentido técnico e humano deste artigo, pois, estão confusos no exercício da “paternidade e da maternidade”, na sua origem natural como humanidade e espiritual como bênção.
Enquanto na condição de monitoramento, todas as possibilidades de tratamento ainda são possíveis pelos setores públicos e privados, de segurança, educação, assistência social e saúde. Porém, uma vez manifestado o descontrole emocional e mental, através do ato indiscriminado e massivo de violência, só restará a incógnita da interrupção espontânea, ou a eventual intervenção de potencial ofensivo igual ou maior ao do agressor, seguida da contagem de vítimas, pois, será tarde demais para a aplicação efetiva da Estratégia do A.M.O.R.