O modo “piloto automático” no cérebro dos profissionais

Temos observado durante nossos trabalhos de consultoria que apesar da grande e rápida oferta de tecnologia disponível no mercado, a preços acessíveis e com processos muito amigáveis, os gestores ainda estão baseando suas operações em trabalhos braçais, ou seja, ainda estão muito dependentes do fator humano.

Cabe, porém, destacar que não se trata de desvalorizar o profissional – ser humano, ao contrário, temos que valorizar a sua condição de ser pensante e com raciocínio e capaz de tomar decisões e praticar ações, com o auxílio de dados e de alertas que a tecnologia pode nos proporcionar.

Entendemos que é caro, por exemplo, pagar um salário para um funcionário apertar um botão para abrir o portão e outro para fechá-lo. Isso um sistema pode fazer! O que precisamos do funcionário é que ele avalie a situação para saber se o portão pode ou não ser aberto, ou seja, analisar o entorno. Para tal, este tem que estar livre desse tipo de função repetitiva e mecânica que o torna um “robô” e tira ou desvia sua atenção do que realmente interessa, isto é, a condição segura.

Segundo Daniel Kahneman, autor do livro Rápido e Devagar, temos duas formas de agir. Uma é rápida e automática, exige pouco ou nenhum esforço, é baseada nas emoções e produz respostas prontas, automatizadas, instantâneas, é o tal do vulgarmente conhecido “piloto automático”. A outra forma, com o “piloto automático” desligado, é mais lenta e ponderada, envolve reflexão e é mais controlada.

Em experimentos, pesquisadores da Universidade de Cambridge colocaram 28 pessoas no interior de máquinas de ressonância magnética, e então ensinaram um jogo de cartas a elas. O jogo não foi apresentado de maneira formal. As regras precisavam ser deduzidas ao longo da partida, na base da tentativa e erro. Depois de algumas rodadas, quando as cobaias já tinham se acostumado às regras, o cérebro parou de prestar atenção no jogo – e passou a tratá-lo como uma atividade de segundo plano. Foram detectados, nesse momento, outros padrões, correspondentes ao piloto automático. Esse segundo conjunto de padrões, descobriram os cientistas, lembrava muito o de uma rede chamada DMN (default mode network, em português, “rede do modo padrão”).

O que estamos chamando a atenção nesse texto é que a própria neurociência nos mostra que há um caminho para adotar uma nova abordagem no treinamento e capacitação de profissionais que porventura devem atuar em atividades que os levam a algumas ações repetitivas (as que não reúnem condições de automatizar) e alertá-los para que voltem sua atenção, ou seja, saiam do estado de “piloto automático”.

Estamos falando do fenômeno conhecido pela neurociência como “blindsight” (em tradução livre é o estímulo de uma pessoa reagir a um estímulo visual ou perceptível – já utilizado por uma linha de pensamento de arquitetos ao projetar novos prédios). Exemplo, sabemos que o elevador tem câmera de segurança, mas é comum observar comportamentos diferentes e até hilários das pessoas dentro de um elevador. Porém, se ao entrar um sinal luminoso acendesse ou uma voz a cumprimentasse, o cérebro seria ativado para lembrar, em primeiro plano, de que se trata de um ambiente vigiado.

Defendemos que o mesmo conceito pode ser aplicado para profissionais de portaria e monitoramento de imagens, dentre outros exemplos. Durante seu turno de trabalho, seriam programados (em um software básico), lembretes, alertas, tarefas rápidas – todos, porém de forma randômica, de tal sorte que a rotina da sua atividade fosse interrompida e seu cérebro despertado a prestar ou acentuar a atenção em pontos ou ações consideradas como fatores críticos de sucesso. Cada ação, corresponde uma evidência e dessa forma pode ser medido o desempenho. A partir dos resultados obtidos, os treinamentos ou as estratégias de trabalho poderão ser adequadas bem como, a melhoria dos recursos da tecnologia aplicada. Isso pode ainda contribuir para o aprendizado da máquina (learning machine) auxiliando e melhorando ainda mais o retorno do investimento feito no sistema como também no profissional.